quinta-feira, setembro 30, 2010

Amigos

AMIGOS

Acto Primeiro (e único)

Sala antiga, decorada modestamente. Acolhedora também.
Um sofá-cama, protegido por uma colcha.
Estante repleta de livros, na sua maaioria de viagens.
E outros móveis menores. No chão, um tapete já gasto.
Dois amigos conversam.

Cena I
Simão e Gatinha, deitados no tapete, televisor ligado


SIMÃO (depois de ver atentamente um programa de TV):
Aqui fechados neste casulo, numa conversa que nem sempre tem jeito, ignoramos o inferno que se passa lá fora. Ou pelo menos fingimos que não sabemos...
GATINHA (lambendo as patitas, deliciada): Meu amigo, deixei-me inundar por pensamentos
positivos, coisa que não tens, e apenas me interessa gozar a paz da nossa casa. Boa comidinha, cama fofa, que mais queres ? Olha, vou dormir uma soneca.


Cena II
Simão levanta-se, vai até à estante, pega num livro e folheia-o devagar. O luar entra pela janela.


SIMÃO: Imensos livros para ler ( o nosso dono compra tudo...) e parece-me que não viverei tempo suficiente para os acabar. Costumas ler, minha amiga ?
GATINHA: Não gosto, Simão. Começo a ler e só o movimento do virar as páginas me dá sono. Prefiro dar um passeio pelo telhado.
SIMÃO: Nefelibata é o que és. Passas a vida nas nuvens e não te apercebes dos problemas que afligem a humanidade. E por extensão a nossa própria existência. Fome, injustiças, calamidades... Afinal em que mundo é que vives ?
GATINHA: Neste pequeno mundo que é confortável. Que cada um cuide de si e deixe os outros em paz.

Sai, deixando Simão a pensar: com " gente " assim, é dificil mudar o Mundo. O ostracismo a que votam as questões importantes é preocupante.



Cena III

Gatinha volta, acompanhada de um vistoso gato, amarelo-torrado, a contrastar com o preto e branco da sua companheira.

GATINHA: Meu caro Simão. Este é o Tareco, o meu novo namorado. Lindo, não é ?
SIMÃO: Como é que este país pode avançar com seres que apenas pensam na diversão ? Por acaso, tens alguma ocupação, Tareco ?
GATINHA: (antecipando a resposta do Tareco): Não tem. Mas é habilidoso e prometeu reparar-me o ferro a vapor que, como sabes, se avariou ontem.
SIMÃO: Feitio variável o teu, Gatinha. Fútil e descuidada ainda te preocupas com o engomar da tua roupa
GATINHA: Vou deixar a conversa por aqui e dar um passeio com o Tareco. Sabes, Simão, quero deixar bem claro que, não podendo andar na vertical como os nossos donos, é na horizontal que me alegro com o meu gatinho. Fica bem e muda o Mundo sózinho.

Simão, entediado, volta-lhe as costas. Sabe que não vai desistir dos seus ideais mas sente-se o D. Quixote do mundo canino.


Cai o pano.
Vibrantes aplausos fazem-se ouvir.


Zé- Viajante - do livro colectivo 22 Olharessobre 12 Palavras 

quarta-feira, setembro 29, 2010

Arte Pública VII - Carlos Bajouca


sexta-feira, setembro 24, 2010

(Outros) Caminhos

O Caminho publicado em PALAVRA PUXA PALAVRA


Outros Caminhos


quinta-feira, setembro 23, 2010

Cem Palavras


(Cem Palavras)

Há cerca de dez anos e até um pouco antes, o jornal DN, publicado de manhã, tinha um passatempo denominado Cem Palavras. Dado o tema, teríamos que escrever o texto em exactamente cem palavras.
Tenho pena que nunca mais o repetissem. Hoje, quase no fim do prazo para compor doze palavras, quero afastar o receio de perder o norte e nada escrever. (Voltei aqui pois a palavra é morte e não norte...)
Não, não é brincadeira de criança (se é, trata-se da meninice de um velho). O sono é bom conselheiro e ditou-me que, face à obstrução de ideias, só havia uma coisa a fazer: não desistir. Feita a tapeçaria de letras, que numa silhueta singela, se vão acomodando, resta-me dizer-vos que as palavras em falta, e são três, dão pelo nome de exponente, orvalho e vulnerabilidade. Batota na redação (ou redacção?) ? Acreditem que não.


Zé-Viajante - do livro colectivo 22 Olhares sobre 12 Palavras

quarta-feira, setembro 22, 2010

Arte Pública VII - Beatriz Cunha


sexta-feira, setembro 17, 2010

(Outras) Clausuras....

Clausura publicada no PALAVRA PUXA PALAVRA

Outras clausuras....

quinta-feira, setembro 16, 2010

Moçambique - Portugal - Brasil (S.Salvador da Bahia)

Há aqueles que nascem com defeito. Eu nasci por defeito. Explico: no meu parto não me extraíram todo, por inteiro. Parte de mim ficou lá, grudada nas entranhas de minha mãe. Tanto isso aconteceu que ela não me alcançava ver: olhava e não me enxergava. Essa parte de mim que estava nela me roubava de sua visão. Ela não se conformava:
 - Sou cega de si, mas hei-de encontrar modos de lhe ver!
A vida é assim: peixe vivo, mas que só vive no correr da água. Quem quer prender esse peixe tem que o matar. Só assim o possui em mão. Falo do tempo, falo da água. Os filhos se parecem com água andante, o irrecuperável curso do tempo. Um rio tem data de nascimento ? Em que dia exacto nos nascem os filhos ?


Excerto do livro de Mia Couto, " O Último Voo do Flamingo " - Editorial Caminho

Estreia hoje nas salas de cinema.

quarta-feira, setembro 15, 2010

Arte Pública VII - Arlindo Arez


domingo, setembro 12, 2010

PRENDAS...

SABES,  MÃE ?

Sabes, mãe! Hoje fui ao teatro.
Estranho, dirigir-me a ti...há tanto tempo que não digo isto..."sabes, mãe!"
O Carteiro de Neruda, chamava-se a peça. A reposição de um êxito. Acho que terias gostado. As luzes apagam-se e percorre-nos um arrepio...algo vai começar...algo que nunca vimos, e sobre o qual temos alguma expectativa.
Há um burburinho na sala...ouvem-se vários pedidos de silêncio. Se estivesses ali sei que estarias de olhos fixos no palco - aqueles teus olhos bem redondinhos e brilhantes -, a expectativa a querer saltar-te do olhar...as mãos pousadas sobre o colo e a cabeça ligeiramente inclinada - aguardando. Talvez a sombra de um sorriso dançasse nos teus lábios, talvez...Depois, o palco iluminou-se!

Terias gostado mãe!

Falava do Chile e de Pablo Neruda - o Poeta!

Falava de liberdade e de luta - coisas que te eram tão queridas.

Falava de poesia, de amor e de esperança - coisas que me exaltam.

Falava de derrota. De fascismo. De morte.

Nessa altura poderia olhar-te nos olhos, e sei que os teus estariam toldados de tristeza e lágrimas e no fim, quando as luzes se acendessem e a magia da história se dilúisse em pinturas e adereços, levantar-te-ías para aplaudir - na expressão vincadas ainda as marcas de um enredo que se fez vida.

Sabes, mãe! hoje fui ao teatro! e agora escrevo-te - aqui onde os teus passos já não ecoam.

Hoje! Dois mil cento e noventa dias depois daquela noite. A última.

A chuva caía forte no tejadilho do carro e o coração batia ao ritmo de cada bátega. O meu - porque o teu se afastava já, deixando-me para trás.

O último olhar. A última palavra. O último beijo.

Foi há dois mil cento e noventa dias mãe, que fechaste o pano.

Apagaste as luzes.

Saíste de cena e eu hoje mãe! hoje, fui ao teatro!

e digo-te!...

afirmo-te!... que mesmo após o fecho do pano, mesmo depois do apagar das luzes, persistem claras as vozes, límpidos os olhares e próximos os beijos.

Dulce Lázaro in " Um Mar de Contos " www.lulu.com

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SABES ...??
Sabes, há coisas irrepetiveis! Momentos únicos que deixam marcas para sempre. Sensações, que quando recordadas deixam um rasto de saudade e lágrimas, ou nos aquecem o coração. Momentos que pontuam a nossa existência, iluminando-a, pondo em destaque alguns "pequenos grandes "instantes da nossa vida.
Sabes, por vezes são coisas que parecem tão sem importância...pequeninas coisas...insignificantes até...Para ti, se tas contar, vais ouvi-las e pensar talvez " porque é que ela dá tanta importância a isto? ", e esquecê-las de seguida, mas para mim elas representam muito. São pequenas estrelas que ainda hoje brilham nos momentos menos felizes.
Sabes qual é a recordação mais antiga que tenho ? Tão antiga que às vezes me pergunto se não será apenas invenção minha. Se não me trairá a memória, confundindo-a com antigos relatos orais.
O cenário é a antiga sala do meu pai. Reconheço-a facilmente. Sei de cor a posição de todos os móveis. Vejo ainda os quadros na parede e o velho armário de madeira a um canto, onde eram arrumados em cada ano os frascos de geleia de marmelo e doce de tomate. Num pequeno divã colocado junto à janela estava eu - sentada na cama com a minha mãe ao meu lado. Dava-me à boca pequenas porções de melão.
Desta lembrança apenas sei que a posso situar entre os dois e os seis anos.
Pergunto-me hoje porque estaria um divã colocado naquele local. Estaria o meu quarto ainda por definir ? Perguntas de que nunca saberei a resposta. Ainda hoje, só me sabe bem comer melão assim: partido em pequenos quadrados e comido com a pontinha de uma faca.
Esta é a única memória que possuo, que coloca a minha mãe naquela casa, por isso ela é tão imporyante para mim.
Como te disse, chego a duvidar da sua veracidade. Temo confundi-la com desejos e sonhos. Temo que seja fruto da minha imaginação.
Já uma vez te falei da mememória dos aromas. Aquele armário dos doces está também guardado no meu baú, assim como o cheiro a madeira do meu quarto ou o cheiro do cabelo daquela boneca de tranças louras.
E depois há os gestos que algúem fez e que ficaram para sempre. Uma  festa na minha barriga quando grávida da minha primeira filha. Um gesto tão único, quanto insólito, vindo de quem veio.
As festas que a minha mãe fazia no meu cabelo. A cabeça deitada no colo dela, ali ficava, tempos e tempos, deslizando os dedos no meu cabelo - alisando...alisando e conversando...e gracejando.
Um gesto já quase esquecido, sabes ? que me é tão grato recordar...


Dulce Lázaro in " Talvez um livro ? " - www.lulu.com

quinta-feira, setembro 09, 2010

Pôr-do-sol na Correnteza - Sintra

quarta-feira, setembro 08, 2010

Arte Pública VII - António Caramelo


segunda-feira, setembro 06, 2010

AZULEJOS DIVERSOS


quinta-feira, setembro 02, 2010

Antena e Grua - Cruzamento em Sintra

quarta-feira, setembro 01, 2010

Arte Pública VII - Abilio Febra


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Arte Pública VII - Apresentação

Semanalmente, sempre às quartas feiras, aqui serão apresentadas as esculturas da Volta do Duche.
ARTE PÚBLICA VII  este ano sobre o tema Principios Humanos.