quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Memórias do Futuro - I


" sozinho a sair da escola sem ninguém à minha espera, a caminho do deserto da casa da minha infância, os gatos da minha avó a pedirem comida, abandonados como eu na velha quinta, o jardineiro enforcado na estufa sem que ninguém me explicasse porquê. Durante anos entrei lá às escondidas, fetos gigantes, begónias em vasos de porcelana, o gancho enferrujado onde um dia ele se pendurara. A viúva sentada ao lado da minha mãe de lenço e vestido preto, a chorar a morte do marido, o jardineiro que me tinha explicado as flores numa tarde de nevoeiro, ao lado do neto que andava comigo na escola, o neto do caseiro e o filho do patrão. O gancho ainda lá está. Todos pareceram esquecê-lo nas obras da quinta, aparece-me em sonhos, uma mão inquieta me procura, estou de pé na estufa, olho para cima e o gancho ainda lá está "

Daniel Sampaio - Memórias do Futuro - Leya / Caminho, pág. 40 e 41


Narrativa de " duas famílias ".

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